Autor de 15 livros sobre a Igreja Católica, Socci escreveu em seu blog ainda em 2011 que Bento XVI decidira renunciar (aqui, confira o post original, em italiano). “O caso VatiLeaks atrasou o anúncio do papa, que tinha a intenção de renunciar logo depois de completar 85 anos”, afirma Socci. “Bento XVI já havia dito que, quando a Igreja passa por uma turbulência, não é oportuno que o papa renuncie. Então, ele finalizou o caso concedendo o perdão a Paolo Gabriele [mordomo responsável por furtar os documentos] e, dois meses depois, renunciou, com 85 anos, como havia planejado, mas com quase um ano de atraso”. Nesta quarta-feira, Bento XVI celebra a missa da Quarta-Feira de Cinzas, que dá início ao período da Quaresma. Será sua primeira aparição pública desde o anúncio da renúncia.
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O jornalista Antonio Socci
“O papa escolheu um momento relativamente tranquilo para a renúncia, mas agora a Igreja entrou novamente numa tempestade”, explica Socci. Curiosamente, Bento XVI escolheu um dia cheio de simbologias na crença católica. O dia 11 de fevereiro seria a data em que a Virgem Maria teria feito sua primeira aparição em Lourdes, na França. A data é, portanto, conhecida como o "dia dos doentes", uma vez que a Virgem de Lourdes é protetora dos enfermos. Para o jornal italiano Corriere della Sera, o dia foi escolhido
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Papa cumpriu expectativas, mas deixa obra incompleta
Senectus ipsa est morbus (a velhice também é uma doença), já disseram os intelectuais do Império Romano Terenzio, Sêneco e Cícero. A justificativa para a renúncia de Joseph Ratzinger foi justamente sua idade avançada, que lhe tirou as forças para carregar o pesado fardo do cargo mais poderoso da Igreja. “O papa tinha um dever muito grande de difundir o evangelho no mundo, cada vez menos cristianizado, sempre mais laico”, diz Socci. Para o jornalista, a renúncia significa que a situação do interior da Igreja, em especial a Cúria Romana, é muito grave. “A cúria criava muitas dificuldades e não ajudava o papa", afirma.
Ratzinger, que disse uma vez haver muita sujeira na Igreja, não queria ser papa - e acabou por deixar sua obra incompleta. A renúncia de um papa nunca pareceu aceitável na prática, por significar o fim prematuro de uma missão divina confiada ao sumo pontífice. Mesmo assim, Bento XVI demonstrou coragem ao romper com a tradição da qual era considerado o mais feroz protetor.
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