O crime organizado e o Vaticano

Arthur Tavares de Melo*
O misterioso desaparecimento da jovem Emanuela Orlandi no começo da década de 80 está obrigando as autoridades italianas a desenterrar a incômoda relação entre o crime organizado e a Igreja Católica. O caso envolve uma rede criminosa chamada Magliana, que durante duas décadas (1970-1990) comandou o crime organizado na cidade de Roma e o controverso cardeal norte americano chamado Paul Marcinkus (1922 – 2006), conhecido como o “banqueiro de Deus” e assessor direto do papa João Paulo II.
Em 22 de junho de 1983, Emanuela, então com 15 anos desapareceu após sair de uma aula de música, na praça Navona, em Roma. Ela foi sequestrada e brutalmente assassinada a mando do cardeal Marcinkus como uma mensagem ao pai da garota, um funcionário do alto escalão do Vaticano que teve acesso a documentos que denunciavam a ligação da Igreja com o crime organizado. A trama que liga os destinos da máfia Magliana, da adolescente e do cardeal começou a ser desvendada somente em julho de 2005 após um telefonema anônimo ao programa de TV italiano RAI-3 denunciando que o chefão da máfia estava enterrado na basílica Santo Apolinário. Descobriu-se também que o mafioso pagou 450 mil euros pela sepultura ao cardeal Ugo Poletti, então vigário geral de Roma.
As relações entre a máfia e a igreja começaram com a lavagem de dinheiro das atividades ilegais dentro de bancos ligados a Santa Madre Igreja. O arcebispo Marcinkus foi o pivô do maior escândalo financeiro do Vaticano: a quebra do banco Ambrosiano, na época a maior entidade financeira da Itália. A justiça italiana descobriu um complexo esquema de corrupção, que incluía pagamentos ilegais e desvio de dinheiro para enriquecimento particular. Há provas, ainda, que a máfia Magliana injetava dinheiro no banco controlado pela Igreja Católica.
A exumação do corpo do mafioso enterrado ao lado de papas e cardeais foi autorizada pelo Ministério Público Italiano, no começo do mês de maio deste ano. A prova do crime cometido pela Igreja veio no encontro de restos mortais ao lado da sepultura do criminoso. Por meio de análises criminalísticas das impressões digitais foi confirmado que os restos mortais eram da jovem Emanuela Orlandi.
* Arthur Tavares Melo – Mestre em genética e melhoramnto de plantas pela Universidade Federal de Goiás

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